sábado, 3 de novembro de 2012

Entrelaços...




Já faz muitos anos que, a cada primavera, imponho-me a tarefa de fazer uma declaração pessoal de fé – de compor um credo. Quando era mais jovem, meu credo ocupava páginas e páginas, de tanto que me preocupava em cobrir todas as áreas. [...]
Com o tempo, o credo foi encolhendo. [...] Resolvi que tinha de fazê-lo caber em uma única página e que só podia usar palavras simples.
Eis o meu credo:
Tudo que eu preciso saber sobre como viver, o que fazer e como ser, aprendi no jardim de infância. A sabedoria não estava no último ano de um curso superior, mas no tanque de areia do pátio da escola. Vejam o que aprendi:
Dividir tudo com os companheiros. Jogar conforme as regras do jogo. Não bater em ninguém. Guardar os brinquedos onde os encontrava. Arrumar a “bagunça” que eu mesmo fazia. Não tocar no que não era meu.
Pedir desculpas, se machucava alguém. Lavar as mãos antes de comer. Apertar a descarga da privada.
Biscoito e leite quente fazem bem à saúde. Fazer de tudo um pouco, todos os dias – estudar, pensar e desenhar, pintar, cantar e dançar, brincar e trabalhar.
Ao sair pelo mundo, cuidado com o trânsito, ficar sempre de mãos dadas com o companheiro. [...]
Pense na sementinha de feijão, plantada no copo de plástico: as raízes vão para baixo e para dentro, e a planta cresce para cima – ninguém sabe como ou por que, mas a verdade é que nós também somos assim.
Peixes dourados, porquinhos da índia, esquilos, hamsters e até a semente no copinho de plástico – tudo isso morre. Nós também.
E lembre-se ainda dos livros de histórias infantis e da primeira palavra que você aprendeu, a mais importante de todas: OLHE!
Tudo que você precisa saber está aí – A REGRA DE OURO, o amor e os princípios de higiene. Ecologia e política, igualdade e vida saudável.
Escolha um desses itens e o elabore em termos sofisticados, em linguagem de adulto; depois, aplique-o à vida de sua família ao seu trabalho, à forma de governo de seu país, ao mundo, e verá que a verdade que ele contém mantém-se clara e firme. Pense o quanto o mundo seria melhor se todos fizéssemos um lanche de biscoito com leite às três da tarde e depois deitássemos, sem a menor preocupação, cada um no seu colchãozinho, para uma soneca. Ou se todos os governos adotassem, como política básica, a ideia de recolocar as coisas nos lugares onde estavam quando retiradas; arrumar a “bagunça” que tivessem feito.
E é verdade, não importa quantos anos você tenha: ao sair pelo mundo, vá de mãos dadas, e fique sempre de olho no companheiro.

FULGHUM, Roberto. Ideias incomuns sobre coisas banais. São Paulo: Best Seller, 1988. (Fragmento)      

 

Um comentário: