Já faz muitos
anos que, a cada primavera, imponho-me a tarefa de fazer uma declaração pessoal
de fé – de compor um credo. Quando era mais jovem, meu credo ocupava páginas e
páginas, de tanto que me preocupava em cobrir todas as áreas. [...]
Com o tempo, o
credo foi encolhendo. [...] Resolvi que tinha de fazê-lo caber em uma única
página e que só podia usar palavras simples.
Eis o meu
credo:
Tudo que eu preciso saber sobre como viver,
o que fazer e como ser, aprendi no jardim de infância. A sabedoria não
estava no último ano de um curso superior, mas no tanque de areia do pátio da
escola. Vejam o que aprendi:
Dividir tudo
com os companheiros. Jogar conforme as regras do jogo. Não bater em ninguém. Guardar
os brinquedos onde os encontrava. Arrumar a “bagunça” que eu mesmo fazia. Não
tocar no que não era meu.
Pedir
desculpas, se machucava alguém. Lavar as mãos antes de comer. Apertar a
descarga da privada.
Biscoito e
leite quente fazem bem à saúde. Fazer de tudo um pouco, todos os dias –
estudar, pensar e desenhar, pintar, cantar e dançar, brincar e trabalhar.
Ao sair pelo
mundo, cuidado com o trânsito, ficar sempre de mãos dadas com o companheiro.
[...]
Pense na
sementinha de feijão, plantada no copo de plástico: as raízes vão para baixo e
para dentro, e a planta cresce para cima – ninguém sabe como ou por que, mas a
verdade é que nós também somos assim.
Peixes
dourados, porquinhos da índia, esquilos, hamsters e até a semente no copinho de
plástico – tudo isso morre. Nós também.
E lembre-se
ainda dos livros de histórias infantis e da primeira palavra que você aprendeu,
a mais importante de todas: OLHE!
Tudo que você
precisa saber está aí – A REGRA DE OURO, o amor e os princípios de higiene.
Ecologia e política, igualdade e vida saudável.
Escolha um
desses itens e o elabore em termos sofisticados, em linguagem de adulto;
depois, aplique-o à vida de sua família ao seu trabalho, à forma de governo de
seu país, ao mundo, e verá que a verdade que ele contém mantém-se clara e
firme. Pense o quanto o mundo seria melhor se todos fizéssemos um lanche de
biscoito com leite às três da tarde e depois deitássemos, sem a menor
preocupação, cada um no seu colchãozinho, para uma soneca. Ou se todos os
governos adotassem, como política básica, a ideia de recolocar as coisas nos
lugares onde estavam quando retiradas; arrumar a “bagunça” que tivessem feito.
E é verdade,
não importa quantos anos você tenha: ao sair pelo mundo, vá de mãos dadas, e
fique sempre de olho no companheiro.
FULGHUM, Roberto. Ideias incomuns
sobre coisas banais. São Paulo: Best Seller, 1988. (Fragmento)
Também adoro esse texto!
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